O Círculo


A sensação ao final de O círculo (The circle, 2017) é de que podia ter sido melhor. Uma premissa ótima, que leva a uma reflexão mais profunda sobre como usamos nossa tecnologia - ou melhor, sobre como não percebemos como a usamos. Voltado para um público mais jovem, é da mesma seara de filmes baseados em livros young adult e que mostram uma verdade cruel para a galera meio desatenta, mas não deixa de ser interessante mesmo para os mais experientes.

Mae Holland (Emma Watson) é uma jovem como qualquer outra: trabalha num emprego ruim enquanto sonha com uma oportunidade de ajudar sua família. Quando sua amiga Annie (Karen Gillan, de Doctor Who e Guardiões das Galáxias) consegue uma entrevista de emprego n'O Círculo, ela sente que essa é a chance da sua vida. A empresa parece ser o sonho de qualquer trabalhador: clima descontraído, muitos outros jovens criativos e empolgados, viagens a lugares descolados, muita tecnologia envolvida. Apesar de assustada com a quantidade de informação e com o volume de trabalho, ela consegue se sair muito bem logo na primeira semana. E quanto maior é a responsabilidade sobre os ombros dela, mais ela quer se dedicar e se provar capaz. Porém Mae não desconfiava do quanto a empresa iria exigir dela - literalmente.
Mae (Watson): mergulhando de cabeça no mundo das redes sociais
Empenhada em se manter no emprego por conta dos ótimos benefícios, especialmente os médicos por conta de seu pai Vinnie (Bill Paxton, em seu último filme), Mae se destaca por sua eficiência. Encantada com as novas possibilidades que a a tecnologia e o pensamento progressista de Bailey (Tom Hanks, excepcional - como sempre), ela sente-se ainda mais responsável pelo programa, principalmente pelas oportunidades de mudança na vida de pessoas como ela. Mas o que ela não percebe é o quanto essa dedicação vai lhe custar. Os efeitos sobre Annie e Mercer (Ellar Coltrane, de Boyhood - da infância à juventude), seus melhores amigos, são o alerta para que ela abra os olhos: nada é tão perfeito quanto parece.

Annie (Gillan) ajuda Mae a entrar para o Círculo: preço alto demais para pagar pelo sucesso
É interessante ver como Mae se dá conta aos poucos do quanto ela se afastou das pessoas mais importantes pra ela e fazer um paralelo com nossas próprias vidas. Quantas vezes nos acostumamos a ter encontros virtuais e isso nos parece tão natural quanto falar ao vivo com alguém - sendo que esse contato não tem nada de natural? Quantas vezes nos dedicamos mais ao trabalho do que às nossas amizades e família? O quanto nos expomos, espontaneamente, sem nem perceber? O quão benéfico e altruísta pode ser um produto comercial? Na era do clicar e aceitar regras sem lê-las, muitas vezes nem pensamos nisso. 

Hanks: carisma e experiência fazem o filme valer a pena
Mas apesar dessa reflexão claramente importante para nós, o longa demora a engrenar - e é o carisma de Tom Hanks que salva tudo. A gente acredita porque a galera topa trabalhar tanto só para ficar mais perto dele - ou ser, um dia, como ele. Ele é aquele chefe inspirador, que é bacana, que ouve os seus funcionários, que recompensa boas ideias - obviamente, tudo até a página 2. E isso é o que é mais fascinante de observar: a sutileza como Hanks trabalha a mensagem subliminar, aquilo que só os olhos conseguem expressar. Aqui vale dizer que os anos de experiência influenciaram e muito no resultado, mas a outra única personagem a apresentar esse extra foi a Annie de Gillan. 

John Boyega teve muito pouco espaço para que seu personagem, Ty, pudesse ter relevância
Emma Watson é boa com dramas, mas a mim faltou um tanto de deslumbramento de Mae ao chegar à nova empresa. John Boyega (o Finn de Star Wars - O despertar da Força) tinha um papel teoricamente importante, mas não houve espaço para essa importância na trama - e eu culpo inteiramente o roteiro, que acabou por valorizar a adaptação de Mae e passou como um rolo compressor pelas nuances dos personagens até chegar ao final apressado. A compreensão do filme não fica prejudicada, mas a experiência de interpretação fica. 

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